lunes, septiembre 04, 2006

A derrota da enganação fundamentalista

Por Osias Wurman, presidente da FIERJ.

A frágil trégua nos ferozes combates ocorridos no Oriente Médio, permite a ousada tentativa de deslumbrar o futuro para a região. Na verdade, preocupa-nos o amanhã de todo planeta Terra, pois o mundo será diferente após esta guerra no sul do Líbano. O terror globalizado saiu, aparentemente, com vantagem deste episódio, pois os armamentos do Hezbollah não foram totalmente destruídos. Não desejo entrar na batalha da propaganda que manipula o numero de vítimas civis, a proporcionalidade do revide israelense ou a legitimidade da influência síria e iraniana num país dito soberano. Quero imaginar o que pensam os jovens árabes, em especial os palestinos, ao verem os escombros de uma guerra não declarada, que vem sendo vendida como vitoriosa mesmo tendo desgraçado famílias, infra-estrutura e a própria soberania de uma nação milenar como o Líbano.
É muito cruel assistir a imagem transmitida pela TV do Hezbollah, e retransmitida para todo mundo, onde dois pagadores ilusionistas “ indenizam” vitimas que perderam suas casas e propriedades, com US$ 12 mil, contados e conferidos defronte das câmeras.
Lembrei-me então dos tempos, não muito distantes, quando Saddan Hussein , agora aguardando enjaulado por uma sentença de morte , enviava cheques de quinze mil dólares para os pais dos suicidas palestinos, como premio de honra ao mérito por seus filhos terem explodido ônibus civis, restaurantes lotados, danceterias repletas de jovens, mercados e salões de festa em pleno evento. A resposta aos suicidas e seus defensores foi um enorme muro protetor de concreto, que hoje corta a Cisjordânia, que reduziu os atentados em 99 % e lembra diariamente aos palestinos que ninguém tem nada a ganhar com o ódio.
“Na atual guerra no sul do Líbano, quem perdeu foi o mundo civilizado; quem saiu iludido foi o povo libanês; quem saiu arranhado foi o povo israelense”
A “vitória” do Hezbollah no atual confronto, trouxe como “troféu” para o povo libanês, uma irreparável perda de vidas inocentes, uma destruição material superior a US$ 5 bilhões além dos 15 mil estrangeiros em solo pátrio, a serem assentados nos próximos dias. Para quem tinha como bandeira a libertação das minúsculas fazendas de Sheba, pleiteadas pelos libaneses e conquistadas na guerra de l967 por Israel, ter uma nova ocupação internacional do sul do Líbano é, antes de mais nada , uma verdadeira catástrofe patriótica.
Tentar vender esta situação como sucesso ou iniciativa vitoriosa é desrespeito à tradicional sabedoria do povo árabe. Certamente existirá uma consciência islâmica pacifista, ainda silenciosa, que explodirá contra o fundamentalismo enganador que vem ceifando vidas inocentes nos quatro cantos do mundo e maculando a imagem do mundo muçulmano. São inaceitáveis as ameaças de atentados terroristas que continuam a atemorizar a Europa, os EUA, o Afeganistão e que diariamente matam dezenas de civis xiitas e sunitas no Iraque. Judeus, cristãos e islâmicos devem dar as mãos no combate ao fanatismo e ao fundamentalismo, qualquer que seja a sua origem. Criminosa é a postura dos que pretendem solapar a coexistência das três religiões irmãs em Abraão.
A história judaica vem sendo escrita mais com lágrimas do que com tinta, mas em nada mudou a disposição israelita de viver em paz com todos os povos, num mundo melhor. O mundo civilizado deve esperar o despertar do bom senso no mundo islâmico, com a definitiva derrota da enganação fundamentalista. Na atual guerra no sul do Líbano, quem perdeu foi o mundo civilizado; quem saiu iludido foi o povo libanês; quem saiu arranhado foi o povo israelense. Vale lembrar a frase de Orem Almog, o jovem de 12 anos que perdeu as duas vistas num atentado suicida num café em Haifa, há três anos, na mesma cidade que agora foi vítima do maior número de foguetes de longo alcance lançados pelo Hezbollah. Disse Almog: "Podem nos arranhar, mas jamais nos destruirão !"
Publicado em O Globo